Textos Sobre Educação




A Pedagogia Waldorf
A Pedagogia Waldorf foi criada por Rudolf Steiner há 80 anos. Seu currículo é vivo, dinâmico e integrado, assim como sua preocupação com o desenvolvimento global dos alunos, suas diferenças individuais e a ênfase em descobrir suas capacidades e potencial respeitando cada etapa de desenvolvimento da criança. Esse currículo é desenvolvido em bases antropológico/antroposóficas, tendo em vista a evolução física, emocional e espiritual do ser humano.
A principal meta de uma Escola Waldorf deve ser o de desenvolver seres humanos capazes de, por eles próprios, dar sentido e direção às suas vidas, desenvolver na criança “cabeça, coração e mãos” através de um currículo que balanceia as atividades escolares. Este currículo insere música; artes além de matérias como jardinagem, técnicas agrícolas e horticultura. Através dessa metodologia, os professores buscam despertar o gosto pelo aprendizado, fazendo deste uma atividade não competitiva.
É ministrado na escola o mesmo currículo exigido em outras escolas como: português, matemática, ciências físicas e biológicas, história e geografia. Mas de acordo com os objetivos da Educação Waldorf, os alunos terão acesso também a matérias como astronomia, teatro, zoologia, botânica, euritmia, música, trabalhos manuais, artesanato, agrimensura, astronomia de posição, filosofia, artes plásticas e cênicas, assim como línguas estrangeiras. Em termos metodológicos, o currículo Waldorf pode ser comparado a uma espiral ascendente: as matérias são revistas várias vezes e a cada nova exposição uma nova e mais profunda visão do conteúdo exposto é oferecida.
Entre na biblioteca virtual da antrposofia e conheça mais sobre esse método educacional.












JOSÉ PACHECO

O EMBAIXADOR DA EDUCAÇÃO HUMANÍSTICA
(por Marinho Fonseca)
Na noite de 20 de agosto rasgou o céu de Varginha uma estrela iluminada. Fique tranquilo quanto a isso o amigo leitor, pois não se trata de mais um “objeto voador não identificado”, ao contrário, este possui identidade, seu nome?! – José Pacheco. Certamente alguns leitores já ouviram falar sobre ele, por isso mesmo vale à pena refletirmos sobre sua trajetória.
Pacheco nasceu na cidade do Porto, e como bom português não sendo Joaquim foi batizado José. O principal de sua história se deu em uma cidade distante 38,5 km de onde nasceu, chamada Vila das Aves. A simpática cidadezinha, hoje com 12 mil habitantes, tornou-se um dos pontos mais visitados do país e isso em grande parte por causa de José Pacheco, ou melhor, da Escola da Ponte. Aves conta com uma rede hoteleira construída para receber as pessoas que vão até lá exclusivamente para conhecer a escola mais famosa do mundo.
Tudo começou na década de 70, quando a Escola da Ponte servia como “depósito de crianças e adolescentes”, nada muito diferente do que acontece nos dias de hoje em milhares de outras escolas mundo à fora. A situação da Ponte era bem essa: ali se encontravam os alunos que nenhuma escola aceitava e os professores que ninguém mais queria, ou seja, um ambiente perfeito para se fazer tudo – porque havia tudo por fazer – ou, pelo mesmo motivo, simplesmente cruzar os braços e não fazer nada. Pacheco ficou com a primeira opção e decidiu, juntamente com alguns poucos professores que também estavam dispostos a fazer alguma coisa, mudar aquela triste realidade. E eles conseguiram! Como?! Acabaram com as aulas formais, aboliram provas e testes, destituíram toda a hierarquia dentro da escola, enfim, botaram à baixo todo o velho sistema que há muito tempo não funciona mesmo. Em outras palavras, eles desescolarizaram a escola. Desconstruíram o modelo do século XVIII, que nasceu para atender a demanda da Revolução Industrial e é o que vigora nos dias de hoje produzindo milhões de analfabetos funcionais e, implantaram um novo sistema considerado por muitos como a escola do novo milênio. 
Na Escola da Ponte os alunos escolhem o que querem aprender e os grupos de pesquisa são formados de acordo com os desejos, interesses e necessidades dos próprios alunos. Não há divisão por série ou idade, chamada, uniforme, sinal, grades nas janelas, muros intransponíveis que mais lembram prisões, aula de cinqüenta minutos e intervalo de quinze, enfim, absolutamente nada na Ponte lembra uma escola. Tampouco há professores, coordenadores, supervisores, nem mesmo há uma diretoria. Trata-se de uma autocracia onde tudo é decidido em conjunto com os alunos, inclusive as regras. Sim, há regras, e, acreditem, elas são cumpridas. Isso é o que se chama nos dias de hoje uma “não escola” – e o número é crescente, inclusive nos EUA –, mas Pacheco prefere o termo “comunidade de livre aprendizagem”. Guarde bem esta expressão, você irá ouvir falar muito disso nos próximos anos. E é bom que se diga que tudo foi feito dentro da lei, com responsabilidade, competência, embasamento teórico, mas principalmente com muito respeito e amor por aqueles alunos. Pacheco nunca deixa de enfatizar: “Criança não é cobaia!”
Evidente que tal mudança não se deu do dia para noite e a Ponte enfrentou grandes batalhas, mas os resultados obtidos quanto a aprendizagem eram tão surpreendentes que ninguém jamais conseguiu fechar suas portas, apesar de inúmeras tentativas. Hoje ela é a maior referência em educação moderna do planeta e seus alunos ocupam os primeiros lugares nos vestibulares das universidades mais procuradas. 
Outro dado interessante é que a Ponte é a única escola do mundo com total autonomia de funcionamento, ou seja, não está subordinada a nenhuma secretaria ou governo. Poeticamente falando se tornou uma “Embaixada da Educação”. Um espaço neutro onde nenhuma política externa tem poder de interferir. Se bem que esta unanimidade está com seus dias contados, em poucos meses uma outra escola conquistará esta mesma autonomia, também graças à Pacheco, só que não em Portugal, aqui mesmo no Brasil, mas por se tratar de ano eleitoral o nome da escola ainda não foi divulgado, sabe-se apenas que é uma escola pública na cidade de São Paulo. Se a moda pega hein?! 
Existem profissionais que foram alunos da Ponte espalhados por todos os lugares que se possa imaginar, desempenhando as mais diversas atividades, inclusive no Brasil, que diga-se de passagem, neste caso em especial é mais privilegiado do que qualquer outro país, simplesmente porque há 8 anos o próprio José Pacheco mudou-se para cá. O motivo?! Segundo ouvi de sua própria boca: ”A seara de trabalho no Brasil é vasta, há muito o que fazer!” – e ele parece gostar de desafios assim! E dessa “ponte” Portugal/Brasil muitos abismos tem sido transpostos e milhares de famílias se beneficiado. O mais interessante é que ele estava aqui bem pertinho de nós, vivendo em Belo Horizonte, só que agora por causa do Projeto Âncora mudou-se para Vargem Grande Paulista. 
O Projeto Âncora é o que mais se aproxima da experiência da Ponte no Brasil. Concordo que a Escola da Ponte foi uma experiência única, não adianta querermos repeti-la tal como foi, mas a essência da “coisa”, a “alma” da Ponte, isso sim pode ser vivenciada em qualquer lugar do mundo e é exatamente nisso que consiste o Projeto Âncora em Cotia, SP. Um trabalho gigantesco, encabeçado por Pacheco e que se mantém sem ajuda governamental, com o apoio da iniciativa privada, de muitos voluntários, além de profissionais contratados – alguns de fora, mas a maioria “garimpados” ali mesmo na cidade e treinados por uma equipe do projeto– e com absoluta adesão da comunidade do entorno, o que engloba três grandes favelas da região. Quando digo profissionais de fora, não me refiro à estrangeiros, pois com exceção de um membro da equipe – além do próprio Pacheco – todos são brasileiros. E não pense o leitor que José Pacheco está apenas – como se isso fosse pouco – “ancorado” neste projeto não, pois há centenas de escolas no Brasil sendo orientadas diretamente por ele e sua equipe, com o apoio de suas respectivas secretarias de educação e amparadas pela legislação, como é o caso de São Tomé das Letras, Três Corações e Campanha, só pra citar alguns exemplos no Sul de Minas. 
Em uma noite memorável, no anfiteatro do PROPAC Vila Barcelona, num evento organizado em parceria com o Parquescola Ecoetrix, totalmente gratuito e aberto ao público, José Pacheco falou por duas horas sobre suas experiências na Escola da Ponte e no Projeto Âncora, contou casos emocionantes de solidariedade e resgate da autoestima de crianças e jovens através de sua longa e legítima práxis educacional. Compareceram dezenas de professores de varias escolas públicas e particulares de Varginha, além de alguns membros da Secretaria de Educação do município. Todos sedentos por beber daquela fonte límpida de sabedoria e doçura. Dentre suas citações, falou em Eurípedes Barsanulfo, Dora Incontri, Lauro de Oliveira Lima, Sebastião Rocha... e em nenhum momento citou os teóricos estrangeiros, à não ser quando foi para chama-los de “fósseis da educação”, referindo-se à Piaget e Vygotsky. Provocador ao extremo, incomodando alguns com suas colocações arrebatadoras, Pacheco considera inadmissível o professor brasileiro conhecer mais sobre Piaget do que sobre Lauro de Oliveira, por exemplo, que segundo o próprio professor, há 50 anos já escrevia sobre tudo o que mais tarde se tornou a Escola da Ponte. Ao que parece é preciso vir um estrangeiro para nos dizer que precisamos dar mais valor ao que é da nossa terra! Apesar de quê, chamar José Pacheco de estrangeiro soa-me estranho, ele é tão brasileiro, tão mineiro, tão nosso!
O “portuga” franzino, o “Zé” – como gosta de ser chamado -, de fala mansa e contador de anedotas de português, mas que também possui um bom acervo de piadas de mineiro e gaúcho, conhecedor da nossa História como poucos, que no Brasil é torcedor da Portuguesa – mas se diz simpatizante do BOA –, vegetariano por ideologia, mas que come carne quando não há outro jeito, apreciador de uma sopa de legumes levemente apimentada (Mari como sempre foi precisa), ex vereador e ex prefeito de sua cidade, amigo pessoal de Rubem Alves e outras celebridades, que se diz um religioso sem religião, considerado o Embaixador da Moderna Educação, da aprendizagem livre, permaneceu em solo varginhense por algumas horas apenas, disseminando a Boa Nova da “consciência humanística”, nos fazendo lembrar da parábola do semeador que saiu à semear. No entanto algo me diz “pá”, considerando que acaso não existe, que Varginha nunca mais será a mesma depois desse 20 de agosto. Obrigado Pacheco!

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